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26/03/2013

José Fernando. O padre que ensinou os motards a rezar!!

 PADRE 2011
Texto Feito  e publicado no Jornal I Por Rosa Ramos, publicado em 26 Mar 2013 - 03:10 | http://www.ionline.pt/portugal/jose-fernando-padre-ensinou-os-motards-rezar?quicktabs_media_article=0#quicktabs-media_article
Inventou uma nova forma de evangelizar, entre strippers e barris de cerveja. O padre motard morreu domingo com 55 anos, vítima de cancro
A vocação do sacerdócio chegou mais cedo que a das motos. O padre motard comprou a primeira moto aos 30 anos. Tirou a carta às escondidas em Sagres, no Algarve, e pouco tempo depois arranjou uma Diversion 600. Vila do Bispo já se tinha habituado às suas excentricidades, mas o que o preocupava era a opinião da hierarquia da Igreja. O que iriam dizer o bispo e os padres se o vissem em cima de uma moto? Meses mais tarde apareceu numa reunião na Casa de Retiros de Alcantarilha com a sua Diversion. Azar dos azares, o bispo do Algarve estava à porta. Todo ele era estupefacção: “Já tenho tão poucos padres e ainda me andam de moto? Só tu, Zé Fernando.”
Em Novembro de 1992 aconteceu a primeira missa motard em Portugal, a seguir a uma concentração dos Corvos de São Vicente. Dias antes, o José Fernando pediu autorização à direcção do motoclube para fazer a eucaristia e pôs uma carta anónima a circular - o objectivo foi atrair o maior número de pessoas à cerimónia religiosa. Foi precisa alguma subtileza. Convenceu os motards com frases pouco convencionais como “Vem curtir uma de missa” ou “Acelera até Deus”. O facto de existir um padre nas concentrações - que até assistia aos shows de strip - despertou a curiosidade dos motards. No meio do pó, do barulho dos motores e dos barris de cerveja, procuravam-no para tirar dúvidas, desabafar ou simplesmente para dizer mal da Igreja. O Zé Fernando inaugurou uma nova forma de evangelizar.
Em pouco tempo, o padre motard - filho de agricultores e nascido numa quinta nos arredores do Fundão - tornou-se um fenómeno com direito a honras na televisão. O número de motards nas missas durante as concentrações não parou de aumentar. Chegaram aos milhares, montados nas motos. Comungaram às centenas, em Fátima, em Lamego, no Montijo. Deram uma segunda oportunidade à Igreja. E a Igreja, desconfiada no início, aprendeu a aceitá-los e, de certa forma, a aceitar também as inovações do padre.
“Por vezes dizem-me que não se percebe se sou progressista ou conservador. Eu também não sei. Sei que gosto de pegar no conservadorismo da Igreja e de lhe dar uma imagem diferente”, contou na sua biografia, publicada em 2011. A fórmula para atrair os motards foi, aparentemente, descomplicada: transformar o Evangelho numa espécie de manual acessível a todos. Logo nos primeiros anos de sacerdócio - José Fernando foi ordenado em 1984 em Évora -, o futuro padre motard compreendeu que havia muitas respostas que os crentes procuravam e para as quais a Igreja não tinha solução. “Muitos tinham-se afastado por serem obrigados a confessar-se, a casar catolicamente para poderem baptizar algum filho nascido em casamento civil”, exemplificava. Trazer os motards à Igreja foi o desafio de uma vida.
Em 2005 andou a pregar junto das comunidades portuguesas em Los Angeles quando foi surpreendido pelo cancro. O médico deu-lhe quatro meses de vida. Passaram oito anos. Quase até ao fim, o padre motard nunca largou a mota. Mais céptica foi a postura, no final da vida, em relação à Igreja, mas sem pôr em causa a fé. O padre motard morreu anteontem, às 23h, no Hospital do Fundão. “Há em mim um desejo de encontrar essa paz. A paz do túmulo, o conforto do além. A morte será o passaporte para uma dimensão muito superior”, disse em Abril de 2011.

  • José Fernando. O padre

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